quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Fora das horas

Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aves pernaltas, os bicos
mergulhados na água,
entram e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniço na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo,
a metafísica, exclamam:
como és bonito!
Quero escrever-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar

Adélia Prado

Eu acordei fora das horas. E quero enquanto estendo mãos e braços que estejas. Quando estás, espreguiço gostoso. Gostosa- você fala. Eu levanto rápido e escovo os dentes, endireito os cabelos, ajusto o lençol em torno do meu corpo e me jogo ao teu lado. Sorrio e te beijo. Levanto. Faço café e charme. Ninguém vê nada do que esfria. Você arranca lençol e vergonha. Eu rindo desajeitada morro no seu dedo. Na sua boca. No nosso gozo.

Nosso dia devia sempre começar assim.

Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da tarde.

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Sussurra no nosso ouvido, vai...