sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Alma beijada



Era para que eu ter escrito antes da Merteuil aqui, já que a primeira parte da música era minha, assim como combinamos dia desses, apaixonadas que somos (como quase toda mulher que honra a cinta-liga que usa) por Chico Buarque. Mas adiei, adiei, adiei.

Enfim, cedo. Eis o conto. ponto.


Quando ele, no dia que o conheci, me deu seu sorrisinho de canto de boca que ainda hoje, um ano depois, ainda acho uma glória, eu já estava pronta. E já pertencia de forma total aquelas mãos, já me sabia sem saída e sem juízo. É claro que todo mundo adora o safado. Eu também, eu também, eu também. Mais que tudo. Mais que todos.

Ele chegou na minha vida um dia depois do meu aniversário de dezoito anos e eu ainda era mais menina do que o que pode-se chamar de mulher feita. Entre livros e músicas e sapatilhas passei sem notar pelos rapazes cheio de espinhas e más-intenções e mãos-bobas. Também pelos espelhos que não os que me mostravam pés em ponta e disciplina. Então não pude entender o porquê da sua chegada em mim, assim, como um predador. Eu presa.

Foi na boca dele que minha beleza se revelou. Que me soube e me entendi mulher. Mas romantizo, entenda... como disse antes, livros demais... Tentarei ordenar pensamentos e palavras para que saibas porque estou aqui e o que quero.

Eu estava saindo da aula de ballet, em roupas largas e passos rápidos quando um carro parou ao meu lado. Hoje sei que ele tem trinta e oito anos. Na época me pareceu um deus. Um presente atrasado. Mas na hora exata. Pensei em destino e em poesia.

Ele não falou nada e abriu a porta do carro para mim. Eu nem por um minuto hesitei. Queria sentar ao seu lado, mesmo que passageiramente. Hoje mesmo sabendo muito, também o faria. Novamente. Sem hesitar. Ele perguntou onde eu morava e eu balbuciei que não queria ir para casa. Foi aí que ele riu. E eu quase morri. Perguntou para onde eu queria ir, meu nome. E eu muda. Ele perguntou minha idade e eu me apressei em contar dos dezoito. Ele riu novamente e ligou o carro. Acelerou e alguns minutos depois, tentei me concentrar na música torcendo que ela disfarçasse o som do meu coração aos pulos. Era aquela música de Chico, sabe qual é?

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada

Ele perguntou se eu já tinha sido beijada daquele jeito e eu só fiz balançar a cabeça em uma negativa tímida. Ele abaixou o volume, desligou o carro e me encarou. Virei o rosto e vi que estávamos numa praia. Não tive medo algum. Então ele, com uma mão terna me virou o rosto e me obrigou a olhar dentro dos seus olhos e com voz clara e doce me perguntou.

- Você quer que eu te beije assim?

Não lembro de ter falado, mas sei que meus olhos devem ter gritado que sim. Porque ele não demorou para ainda me encarando, delicadamente abaixar a alça da minha blusa e muito, muito devagar, me mordiscar o ombro. Senti meus pelos da nuca eriçarem, minha calcinha molhar quando ele começou a ir com leves beijinhos, como flores ou como penas subindo dos ombros para o pescoço do pescoço para a orelha da orelha para o rosto. Boca. Ele passou sua língua bem devagar na minha boca que se abriu num convite. Ele me beijou durante muito, muito tempo, até que eu mesma tirei a blusa e coloquei sua mão sobre um dos meus seios.

Com a ponta dos dedos ele circundou levemente meu seio que arrepiava. Eu achei que nada podia ser melhor, até que ele abaixou e enquanto uma das suas mãos insistia nessa carícia, sua língua iniciou outra doce tortura. Arfei e gemi. Ele parou o que estava fazendo, abriu a porta do carro e saiu. Eu cobri os seios com as mãos, mas não tive nenhum pudor em alguns segundos depois ir atrás dele. Já era noite. Ele estava de costas, contemplando sei lá o que. Tirei o resto das roupas sem que ele visse. Me aproximei e toquei de leve em seus ombros. Ele não virou. Beijei suas costas. Ele permaneceu onde estava. Então abracei-o, encostei meu corpo no dele numa tentativa inútil de me fundir naquele homem para sempre.

Ele virou, me olhou nos olhos e nos deitamos no chão. Ele tirou as próprias roupas e novamente me beijou. Abriu minhas pernas e alí se demorou muito tempo. Foi quando ele enfiou levemente um dedo em mim enquanto sua língua já estava brincando com meu grelo há algum tempo, que gozei pela primeira vez.

Ele perguntou se eu sabia seu nome.

- Você é o meu amor.- Eu respondi.

Vejo que você continua não entendendo o porque d´eu te contar tudo isso. Uma desconhecida. Mas está excitado. É o que me interessa. Serei clara, então. Depois desta primeira vez, estamos sempre juntos, eu estou sempre disponível, basta um telefonema, um aceno. Mas sei que ele tem outras. Muitas outras. As pessoas tem pena de mim. Eu mesma, por vezes, tenho muita pena de mim mesma.

E hoje eu escolhi você. Porque sim, eu amo esse homem de sorriso de canto de boca. E pertenço de forma total aquelas mãos, me sei sem saída e sem juízo. Mas quero ao menos tentar recuperar alguma resquício da minha alma de volta. E acho que só tem esse jeito. Então, você que trepar comigo hoje?

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