segunda-feira, 26 de julho de 2010

Realidade inventada


Para Merteuil, amiga amada.
"Vencer ou morrer"(?)
Não importa. Não numa ”realidade inventada”.

Por gostar de homens que sussurrassem palavras proparoxítonas em seu ouvido, Luana estava sozinha já há algum tempo. Escassez não de pretendentes, uma vez que ela era linda, mas de vocabulário, nos que a queriam levá-la para a cama.
Um dia, numa esquina virtual da vida, conheceu Fernando e ficaram amigos. Ele, nascido e criado em Portugal só conhecia o Brasil através do que tinha lido de Jorge Amado. No seu delírio e desejo, aquela Brasileira que entendia tanto quanto ele de entrelinhas e metáforas, era a Gabriela, cravo e canela que sempre sonhara. Com a vantagem da inteligência e cultura.
Começaram os e-mails diários entre ambos, já que nunca mais conseguiram se encontrar on-line. E neles, as palavras. E a sedução.
Ela, já ligava o computador, antecipando com os seios arrepiados, as frases que a fariam passar o resto do dia em estado de excitação e desejo. Frases que quando respondidas com dedos úmidos, voltavam na forma de uma educação e cortesia polidas por parte de Fernando. Verdadeiras duchas frias em seu corpo, que passara a ansiar tanto por aquele homem.
Então ela aceitava o recuo dele e era também polida e educada, para ao abrir o e-mail seguinte sua calcinha ensopar e ela quase gritar de tesão. E de raiva.
Isso durou alguns meses. Até que soube. Precisava de uma estratégia, afinal aquela briga de cachorro grande já estava indo longe demais. E ela sentia-se perdida e perdendo.
Inventou Carlos, negão carioca, de pica enorme, traficante no morro, que a comia de todas as formas possíveis e sempre que queria. Contou-o a Fernando, com detalhes. Mas jurou sua amizade eterna apesar de. E afirmou que como seu amante não podia vê-la sempre, aquela relação não iria de forma alguma atrapalhar na comunicação de ambos. As minhas noites continuam suas, afirmou.
Ele aceitou, humildemente, e quanto mais tinha a coragem de com fineza européia, parabenizá-la por tanto desejo compartilhado com seu amante imaginário, mas ela se esmerava em descrever, quase sadicamente, suas trepadas, punindo-o e excitando-o.
A cada homem que passava na rua, Luana passou a exercer um fascínio de mulher bem-fudida e neles sua imaginação buscava material para o e-mail seguinte.
Contou de quando transara em todas as posições que sabia e imaginara num dia de sol, numa praia deserta, com a areia arranhando o bico do seu peito e machucando-a. Também dos três companheiros de tráfico de Carlos que revezaram-se em seu corpo, dentro de um barracão abandonado. Descreveu com esmero, os urros que deu, quando seu macho inventado comera sua bunda pela primeira vez. E todas as outras.
Sabia Fernando desesperado, quando seus e-mails rareavam. Mas ele sempre queria saber. Mais. Não, não me conte. Mais.
E ela contava.
Até que Fernando comunica num texto ausente de sua usual maestria com as palavras, que marcara a passagem para o Brasil. Tinha que vê-la. Não conseguia mais dormir, pensando nela, suada e exausta. Amolecida de tanto sexo. E não com ele. Mas exigia, não quero mais sabê-la nessa relação.
Ela gargalha, quando concorda também por escrito, e muito poeticamente, com a condição imposta por ele.
Chega o dia. Ela está dirigindo até o aeroporto para buscar Fernando, quando dois homens armados invadem seu carro. Uma máscara é arrancada e olhos negros que se destacam numa pele também negra a fitam. Ela escuta a voz de um alguém no banco de trás gritando:
- Porra, Carlos, vai deixar a puta ver teu rosto?

Um comentário:

  1. Mas ele me mata, opa, ele a mata de prazer? E ele sabe soletrar "goza, agora, de novo e de novo"?

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Sussurra no nosso ouvido, vai...