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terça-feira, 7 de junho de 2011

Pecado


Porque, baby, fuder contigo é minha oração. Repito enquanto me ajoelho, que seja bom, que seja luz, no escuro, noites e noites em claro. Céu, inferno, paraíso, morte, perdição, salvação. Eu e você. Cuspe, gozo, mais e mais e novamente. Morro e renasço em tí e para tí. Braços abertos. Pernas também.

Você crê em mim?

terça-feira, 31 de maio de 2011

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Palavras

- Homens que usam boné ou chapéu, de acordo com Freud, tem problemas sexuais.- decidi falar já meio bêbada. Saco cheio. A noite até ali tinha sido uma grande merda.

Era mais um final de noite, mais um. Nada de interessante se apresentava que pudesse melhorá-la. Comecei a pensar em como chegar em casa ensaiando passos silencioso para não acordar nem mãe nem cachorro bravo e dormir. E acordar. Pensei na ressaca vã. Nada demais.

Ele de alguma forma passou a ser foco quando riu do meu comentário imbecil. Bar quase vazio, nós na última mesa. Amiga mais bêbada que eu:

- Você leva ela para casa?- pergunta a traidora dos meus desejos de sossego.

- Será um prazer.- Responde o rapaz.

Policial. Não confere. Novinho demais. Não confere. Estou bêbada demais. Não confere.

Chegamos no portão da minha casa. O cachorro milagrosamente não latiu. Nos beijamos.

Confere.

Quando ele enfiou o dedo na minha buceta eu já estava tão molhada que o seu dedo entrou dentro de mim com facilidade. Nada a perder- pensei. Meninos são fáceis de lidar e já faz algum tempo...


- Você é puta? Você é?- sussurou no meu ouvido enfiando outros dedos e me enchendo de desejos e ensopando calcinha, que já, a essa altura, estava quase no chão.

- Você quer que eu seja?- respondo.

A buzina deve ter acordado alguém quando minha perna levantou demais e eu me coloquei em seu pau ou talvez tenha sido meu cotovelo ou eu que inteira bati onde não devia. Eu não contei, mas gozei já ali.

Esse menino talvez, apenas talvez, pensei, valesse mais que uma trepada no carro.

- Eu quero que você fale.- ele pede.

- O que você quer que eu fale?- falo gozando novamente.

Filho da puta dos infernos, ele é um homem que fala demais- penso.

- Tudo - Você cospe em meu ouvido.

- Enfia em mim. Mete em mim.- Grito.

Ele enfia o pau na minha boceta. Fundo. Mais. Muito. E de novo. Buzinas novamente.

- Você é puta?- pergunta novamente.

- Sou, eu sou puta. É isso que você quer? É isso que você quer, porra?

Abro mais as pernas mais e ele delicada e sensualmente enfia o dedo na minha bunda.

- Eu quero comer sua bunda.- afirma.

- Hoje não- respondo.

Arrependo logo depois.

- Eu vou gozar. Eu vou gozar, seu puto. Quer me sentir gozando?- grito (?)

- Goza, goza, goza, goza- ele repete. Eu obedeço.


- Agora eu vou gozar na sua boca.- ele determina. Novamente obediente. Eu.

Calo a boca.

Enfim.



Pego minhas chaves. Sem troca de telefones, sem promessas.

Comecei a pensar em como entrar em casa ensaiando passos silencioso para não acordar nem mãe nem cachorro bravo e dormir. E acordar. Pensei na ressaca vã.

Nada demais?


terça-feira, 21 de setembro de 2010

Para ler escutando tango



Eu tirei a roupa lentamente. Despida em vermelhos. Preto no branco.
Rosa na boca, olhos borrados em lágrimas de desejo antecipado e não-realizações.
Eu tirei a roupa para outro.
Você.
Não. Não. Não.
Amor das minhas vidas todas.
Ontem eu morri em não-você.
Ainda aceitas esta dança? Comigo?

P.S: Mais tango, baby? E dos bons? Aí do lado.
Beijos dramáticos para todos vocês, queridos e queridas.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Tá todo mundo trepando

Passam muitas pessoas no saguão dos aeroportos.
Passam neste aeroporto da agora,
e eu, no meu pensamento,
não me comporto, imagino elas fodendo:
fulano com fulano,
são casados, gozam, fazem planos?
E ela, quer logo que acabe?
E ele, penetra rosnando?
Fantasio as inúmeras possibilidades de encaixes,
em como foram as noites de amor que tiveram para fazer essas
crianças chinesas africanas alemãs francesas mexicanas libanesas
brasileiras cabo-verdianas espanholas cubanas holandesas
senegalesas turcas e gregas.

(meu pensamento é inconveniente mas ninguém sabe,
escrevo num café, estou, por fora, muito chique no cenário
e nitidamente estrangeira.)

Agora passam dois homens.
Sentam à mesa ao lado.

Falam germânico mas a tradução é da mais alta putaria,
Uma iguaria da mais pura sacanagem!
Eu sei, são gays. Eles não sabem que eu sei.
Pensam que escrevo o abstrato
E capricham descansados ao colo do idioma que não alcanço.
Mas sou poliglota na linguagem dos molhares,
cílios a mais antiga cortina do mais antigo teatro
na pátria universal dos gestos, meu bem!
Eles não escapam.
Um chupa muito o outro, que eu sei,
e o magrinho gosta de dar por cima e de lado.
Importante dizer que dentro desse meu pensamento safado
também não tem pecado.
Só me diverte
Ver o que todos negam,
O que não se diz no social,
Uma radiografia verbal da intimidade alheia é o que faço aqui,
Sem que ninguém suspeite,
Sem ninguém me permitir.
Aquele tem pau pequeno e, pior que isso,
e, mais que suas parceiras, acha isso um problema.
Aquele ali também tem, mas arde na cama e se empenha muito
compensando a diferença.
Aquela, num outro esquema,
diz não gostar da coisa
e fala sem parar.
Só uma pirocada de jeito para fazê-la calar.
A gostosa gordinha engole a espada todinha
daquele altão desajeitado,
cujo grosso membro se torna,
em meio às coxas dela, disfarçado.

E o velhinho punheteiro
De pau mole com jornal no colo?
Talvez seja o único a adivinhar o teor dos meus escritos,
dado que me olha dissimulado e constante
de modo a nunca perder meus segredos de vista.

(Com licença mas é dessa matéria hoje minha poesia)

Enxerida, vejo a mulher com cabelo cortado à la moicano
Com a menina que iniciara a tiracolo,
Feliz sem ser por ela lambida
E sem saber no que estou pensando.

Passam as pessoas
no saguão do aeroporto,
fingem que fazem check-in
fingem viajar sérias e de férias,
fingem estar trabalhando...
mentira,
pra mim ta todo mundo trepando!

Frankfurt, 6 junho de 2002
Elisa Lucinda

sábado, 4 de setembro de 2010

Bonito

Eu quero que você arranque minha roupa e me faça gritar. Rasgue. Despedace. Eu. Quero que cubras minha boca na hora que eu grite de pedidos e vontades.

Você sabe que é meu, não sabe?

E que molhada assim só em tua língua e em você, você, você. Ais e uis.

Fazes a mim e para o que sou quando abres meu sutiã sorrindo escrotamente. Penso. Quando me fazes chorar em teu pau de tanto (di(e))vagar em mim. Sobre. Além.

Sonho.

E eu sonhei ontem que chegavas. Outra vez. Não batias na porta, mas davas palmadas carinhosas, fortes, carinhosas, sem eu saber mais o que nem onde. Na minha bunda. Como sempre foi ou deveria ser sempre, homem meu.

E eu gozava e gozava e ais e uis... você em mim...

E aí acordei.

Porque não vens logo?

Você sabe que é meu, não sabe?

Eu sou sua. Suo.


O que é bonito?

Lenine

O que é bonito

É o que persegue o infinito
Mas eu não sou
Eu não sou, não...
Eu gosto é do inacabado
O imperfeito, o estragado que dançou
O que dançou...
Eu quero mais erosão
Menos granito
Namorar o zero e o não
Escrever tudo o que desprezo
E desprezar tudo o que acredito
Eu não quero a gravação, não
Eu quero o grito
Que a gente vai, a gente vai
E fica a obra
Mas eu persigo o que falta
Não o que sobra
Eu quero tudo
Que dá e passa
Quero tudo que se despe
Se despede e despedaça

O que é bonito...



segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Close

Ela chega no bar rebolando docemente em seu vestido preto. A última cliente. Barman e garçom, apenas.

Ela.

Gim. Duas pedras de gelo. Pede.

Cruza as pernas numa delicadeza de naja e sorri em vermelho ao deixar seu cigarro ser aceso por isqueiros e atenções. Novamente mostra os dentes, antes de se encaminhar para a porta e virar o aviso.

Close.

Tira o vestido lentamente. Cada passo mais pele mostra enquanto volta para o balcão. Apenas de calcinha se coloca de joelhos no banco mais próximo do homem que a serviu. Com dedos afasta a seda e mostra a buceta. Sorri novamente virando pescoço. De costas. Pisca para o garçom que a observa enquanto arreia as calças. Começa a acariciar o pau do barman.

- Qual dos dois vai me fuder primeiro?

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Se me traires...

Também em Nine.

Parafraseando o amigo que antes parafraseou: Há mais coisas entre o sexo e o sexo do que pode imaginar nossa vã filosofia.

Falando em cinema...

Eu olhava teus seios e volteavas e sorrias. Dança. Dança.
E agora?
-Puta. Puta. Puta.
Eras aquela que eu sonhava depois do beijo da minha. Mãe.
Te desejo em cada mulher que passa e tem brilho diferente. Em pulseiras, em batons vermelhos ou em olhares.

- Seja homem! Seja homem!
Nada é tão simples como tú. No entanto, danças?

Assistam: Nine.

domingo, 1 de agosto de 2010

L´amour. Ah!

Obra: Shiko


Tirou a calcinha e o sutiã. Pretos. Um dedo a chama. Ele levanta o vestido e se mostra.
Uma boca qualquer grita. E beija. E abre suas pernas e a lambe. Círculos lentos e molhados, dedos, um, dois, três. Deita entre os quatro.
Mãos, línguas, dedos, paus, cheiros, bucetas. Excesso.
Goza.
Bebe mais um gole da garrafa ao lado do colchão, pequeno demais, opressivo demais, antes de ficar de quatro, entre os quatro.
Excesso. Goza. Goza. Goza.
Acorda e não há mais ninguém. Bebe outro gole da garrafa ao lado e volta a dormir.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Vida fácil

Música: Viver de amor de Chico Buarque. Canta: Marlene

Com um sorriso cansado de reconhecimento, ela cumprimenta o bêbado que mora em papelões na frente do seu prédio antigo. Para um pouco ao seu lado e aceita um gole de uma garrafa qualquer oferecida com mãos sujas e boca sem dentes. Faz uma careta, cospe e recebe um gargalhada em troca.

Continua andando.

Arrasta a bolsa de alças compidas pelo chão e num das mãos de unhas vermelho-sangue descascadas nas pontas, carrega seus tamancos de saltos altíssimos. A boca já está já sem batom, os olhos borrados. Também vermelhos. Injetados.

Aquela seria a hora dos pássaros começarem a cantar na sua cidade. Mas não naquele lugar cinza de fumaça e de ódio.

Chuta uma porta e começa lentamente a subir o primeiro dos cinco lances de escada que vão dar no seu quitinete mofado. Muquifo. Cospe de novo.

- É um quarto-sala mobiliado, a descarga não está funcionando, use o balde. Mas não pode trazer macho para cá, viu, puta? Aqui nos damos aos respeito.

Relembra fragmentos da noite e vomita num canto qualquer lá pelo primeiro andar. Canta alto para incomodar vizinhos e esquecer. Não esquece.

Pra se viver do amor

Há que esquecer o amor

Há que se amar

Sem amar

Sem prazer

E com despertador

- como um funcionário

Aquel dia acordara num lugar estranho, com o celular tocando, sempre programado para fazê-la despertar em horror. Três da tarde. Havia sangue no meio das suas pernas.

Procura sua calcinha, se limpa. Preta. Sorte. Ao vesti-la, enxerga os dois homens que roncam por perto. Reconhece os filhos-da-puta dos policiais de sempre. Porcos. Estavam de folga e queriam se divertir. Porcos. Tenta não acordá-los e procura a bolsa. Abre. Porcos. Perdera o dinheiro da noite. Mas ainda estou viva, suspira.

Quando sai do banheiro, onde tentara se recompor na frente de um espelho cinza, o mais alto deles a empurra de encontro e com a cara na parede. Ela sente o cheiro de sexo e sujeira quando ele coloca o pau para fora, depois de segurar as suas mãos. Sente uma mordida nas suas costas. Forte demais. Porco. Enquanto ele a enraba, ela morde o lábio para evitar gritar de dor. Não que acordar o outro filho da puta. Ia ser bem pior, ela sabia.

Ele goza rápido, suando e dá um tapa na sua bunda com uma piscadela de olho. Ela séria, o encara. Ele bate-lhe na cara.

- Sorri para mim, vadia!

Ela sorri. Consegue ir embora.

Há que penar no amor

Pra se ganhar no amor

Há que apanhar

E sangrar

E suar

Como um trabalhador

Em casa, joga a calcinha no lixo. Porcos. Banho, esfrega corpo e vê as manchas roxas nas pernas e na barriga. Merda. Está atrasada e não consegue esconder com a base barata a marca dos dentes tatuadas nas costas. Merda.

Sai correndo na chuva. A saia curta e top amarelo são substituídos por uma outra pouca roupa qualquer. Tira-a na frente de homens que bebem e gritam palavrões, enquanto se esfrega num mastro de metal frio. De costas até o chão. Arreganha as pernas na frente de um gordo senhor, pega nos peitos. Passa a língua pelos lábios e faz um pequeno gesto de quem vai arranhar alguém.

Sai do palco e senta na mesa do tal gordo. Primeiro conhaque, segundo, terceiro. Fácil, pensa. Vão para o quarto. Ele tira da carteira um saquinho. Cheiram juntos. Ele bate nela com força. Na bunda. Na cara. Cospe. Arranha.

Ela grita para ver se ele consegue finalmente gozar. Tempo demais, e ela já está molhada de um suor viscoso. De ambos.

- Me fode garanhão, me come gostoso, me fode, caralho, que eu vou gozar. Eu tô quase gozando, porra.

- Agora você vai gozar, piranha.- Ele diz.

Ele sente um objeto pontiagudo no seu ventre. Vê gotas de sangue surgirem. Está anestesiada demais. Já deixou de sentir àquela altura da noite.

Horas depois, limpa sangue e esperma com um pedaço de papel higiênico e se despede com um aceno do gordo.

Paga sua parte pelo uso do quarto, calça as sandálias sentada num banco alto, enquanto bebe um outro conhaque no balcão. O homem cansado que lhe serve, tenta puxar conversa.

- Eu tentei te avisar para não pegar aquele. Ele já machucou sério muita menina por aqui. Não ia ser uma coisa boa no seu primeiro dia.

- Tô acostumada com a dor, querido. – ela responde.

Sai para a noite fria. Cansada. Pega no ventre e sobe um pouco mais a saia para esconder as cicatrizes. Mais.

Tantas já, pensa e suspira.

Ai, o amor

Jamais foi um sonho

O amor, eu bem sei

Já provei

E é um veneno medonho

Tão lindo seu homem. Seu escolhido. Tinha emcompridado seus olhos de menina de interior, quando aparecera. Pai viajando, mãe foi junto. Chama ele para casa. Quer saber mais dele. Mais de sí.

Ele pega na sua perna, mal chegam. Levanta sua blusa, arrepia o bico dos seus peitos pequenos com a língua. Abaixa e lambe mais. Ela entende e geme. Então é isso, pensa.

Ela se deixar levar pro quarto, ele afasta suas pelúcias. Eles deitam.

Ela suspira. Ela geme mais quando ele enfia um dedo e continua em círculos a buscá-la.

Fita aqueles olhos que ama para sempre, abre mais um pouco as pernas e despede-se de sua virgindade.

Grita quando ele arremete dentro dela, mas sente que algo mais está para acontecer, algo que vai levá-la para além daquela dor persistente. Então chegam, inundando-a toda, ondas que quase a afogam. Ele grita o nome dele. Pede mais. Ele dá.

Espreguiça sonolenta e escuta os pássaros daquela cidade no fim do mundo anunciando manhã. Com uma mão procura amor ao lado. Sente o colchão vazio. Pega em papel. Dinheiro. E uma breve nota escrita numa página branca da bíblia que guardava na gaveta.

Espero ki xegui. Quando falamos esses dias você num falô preço. Num devo mas paçar pela cidade.

É por isso que se há de entender

Que o amor não é um ócio

E compreender

Que o amor não é um vício

O amor é sacrifício

O amor é sacerdócio

Amar

É iluminar a dor

- como um missionário

Um carro para ao seu lado. Ela abaixa na janela e vê um casal dentro. O homem velho e feio, uma mulher na casa dos cinquenta de olhos baixos e mãos que remexem em seu colo. Combinam um preço.

- Entra- diz o homem- Você vai pro banco de trás, resmunga para a mulher cabisbaixa. Ambas obedecem.

Ele vai pegando na sua coxa, enquanto rí alto.

- Trinta anos de casamento, ela me flagrou na cama com outra. Quis sair de casa, vê se pode? Eu disse, agora tú vai ver, mulher, é eu comendo outra de verdade. Gargalha mais um pouco.

Depois. Roncos altos. A mulher está sentada numa cadeira, olhos cheios de lágrimas. Ela levanta e chega perto, limpa seu rosto e alisa seus cabelos. Abre um a um os botões daquela blusa discreta e pega delicadamente em seus seios. Ela arfa e a olha nos olhos. Se beijam.

Com cuidado ela continua beijando. Cada parte daquele corpo. Usa a língua, usa as mãos, usa o próprio corpo, esfrega seu sexo no da mulher. Se abre. Se abrem.

Ela sente o gozo da outra. Do silêncio que se segue, emerge uma voz tímida.

- Nunca tinha sentido isso antes. Obrigada.

Com um sorriso cansado de reconhecimento, ela cumprimenta o bêbado que mora em papelões na frente do seu prédio antigo. Para um pouco ao seu lado e aceita um gole de uma garrafa qualquer oferecida com mãos sujas e boca sem dentes. Faz uma careta, cospe e recebe um gargalhada em troca.

Continua andando.

Sobre certas mortes

n

O filme é Drácula de Bram Stoker (1992)- Direção de Francis Ford Coppola

Gary Oldan como Drácula/ Conde Vlad e Winona Ryder como Mina

Porque aceitar morte e gozo é tão igual. Tão.
Sei que és, amado sombrio, meu carcereiro, mas também meu pai. És aquele, que entre sombras, me deseja mais que a tí mesmo.
Me criaste em teu desejo. Te crio todos os dias. Habitas desde sempre tudo que é dentro e íntimo e escuro em mim. Antes de saber-me, tu já estavas lá. Aqui.

Barba-azul, esqueleto ancestral, masculino eterno, ódio e tesão.
Sempre te procurei. Estás em todas as fantasias que não conto. Ofereço a tí em sonhos, buceta e boca e sangue.
Teu inferno é minha veia e minha veia te pede. Porque em algum momento, tu ao matar-me inocência e fazer-me conhecer terror, me ensinarás os ciclos que me farão rainha de mim mesma.
Sei também que no escuro que é teu reino sou mais eu do que nunca.
Como negar-me, pois?
Senhora e escrava. Sempre amante. Sempre atenta.
Tua. Sempre.
Até que um dia, em breve, o sempre se repita
.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Encontro- Claire Tristam


- O que você vai fazer comigo?- Ele perguntou.
- Cale a boca.
A voz dele assustou-a; parecia sua própria voz, porém muito mais grave e gutural do que o normal. Estava zangada com ele, enraivecida por ele ter interrompido seus pensamentos quando estava prestes a descobrir uma grande verdade. Sobre ele. Sobre ela. Tudo irremediavelmente perdido.
Sem saber mais o que fazer consigo mesma, pegou o arame e começou a açoitá-lo nos lados, sem muita força, mas com força suficiente para tirar uma gota de sangue a cada açoite. Ele se mexia para a frente e para trás na cama, mas não deu uma só palavra, não pediu que ela parasse. Ela percebeu, aqueles movimentos produziam um efeito íntimo e estranho na sua própria respiração; o mero fato de observá-lo se mexendo para frente e para trás quando ela o vergastara mudara os ritmos de sua respiração. Sentia o sangue pulsar-lhe nas veias, com um passo acelerado cada vez que o arame encostava no corpo dele, a cada gota de sangue que escorria. Porém uma certa formalidade invadira seus sentidos. Tinha a impressão de estar desempenhando um ritual com aquele homem, um ritual de certo modo tão formal e complexo quanto um minueto antigo.
(...)
Porque ele não lhe pedia para parar? Aproximou-se para poder sentir-lhe o corpo e notou sua ereção. Assustada, tirou a mão, Sua incerteza aumentou ao perceber o desejo dele. Viu os quadris subirem e descerem, e desejou ardentemente que alguma coisa dura surgisse do seu corpo para ela poder enfiar nele. Viu a ereção dele de novo, e teve raiva. Apertou-o com força, com intenção de machucá-lo.
Largou o arame no chão e se ajoelhou ao seu lado, abriu as pernas dele e colocou as palmas das suas mãos nas suas nádegas. Pensou nos quadris de uma mulher. Enfiou a ponta do dedo no seu ânus, impressionada com tanta audácia. Quando o dedo entrou, ele parou de respirar. Ela enfiou o dedo de novo e o resultado foi o mesmo. Não conseguia compreender por que isso a excitava, nem o fato de nunca ter desconfiado que poderia se excitar dessa maneira. Até mesmo o cheiro dele a excitava, pois ele entregar-se a ela dessa forma parecia mais íntimo que qualquer outra coisa que ela já experimentara. Aproximou-se de novo para segurar no pau dele, e enfiou um dedo no seu ânus, depois mais um. Sua ereção acabou e ele gritou e a chamou de filha-da-puta, entre outros palavrões. Mesmo com dor, ele lhe parecia aberto, como se ela realmente tivesse um membro, como se estivesse trepando com ele com seu próprio membro naquele momento, e como se ele estivesse gostando.
- Ainda quer me compreender?- ela perguntou
- Quero
- Diga se gosta disso.
- Gosto.
- Diga, “Eu gosto disso”.
- Eu gosto disso.
- Fale para eu não parar.
- Não pare.
- Como você está se sentindo?
Uma pausa.
- Como uma mulher- ele respondeu.
- Piranha. Piranha filha-da-puta.
Seu ânus estava escorregadio e aberto para ela. É isso que os homens sentem quando fazem amor conosco, disse a si mesma. O que estou sentindo agora. Querem machucá-la, invadi-la, rasgá-la. E o único propósito do meu amante é permitir isso. Foi isso que esse homem pensou de mim, no momento do seu orgasmo. Era isso que meu marido pensava de mim, no momento do seu orgasmo. Queria me penetrar. Ela estava tão pasma que enfiou o dedo bem no fundo, e só percebeu sua própria excitação quando gozou.

A coragem de ser bicho (ou sobre ontem)


E se realmente gostarem? Se o toque do outro de repente for bom? Bom, a palavra é essa. Se o outro for bom para você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. O pé, no fim do dia. A boca, de manhã cedo. Bons, normais, comuns. Coisa de gente. Cheiros íntimos, secretos. Ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua lá dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor? Quando você chega no mais íntimo, No tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. Você também tem cheiros. As pessoas têm cheiros, é natural. Os animais cheiram uns aos outros. No rabo. O que é que você queria? Rendas brancas imaculadas? Será que amor não começa quando nojo, higiene ou qualquer outra dessas palavrinhas, desculpe, você vai rir, qualquer uma dessas palavrinhas burguesas e cristãs não tiver mais nenhum sentido? Se tudo isso, se tocar no outro, se não só tolerar e aceitar a merda do outro, mas não dar importância a ela ou até gostar, porque de repente você até pode gostar, sem que isso seja necessariamente uma perversão, se tudo isso for o que chamam de amor. Amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. O amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. Se amor for a coragem de ser bicho. Se amor for a coragem da própria merda. E depois, um instante mais tarde, isso nem sequer será coragem nenhuma, porque deixou de ter importância. O que vale é ter conhecido o corpo de outra pessoa tão intimamente como você só conhece o seu próprio corpo. Porque então você se ama também.

Pintura de Egon Shiele/ Texto de Caio F. Abreu

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Realidade inventada


Para Merteuil, amiga amada.
"Vencer ou morrer"(?)
Não importa. Não numa ”realidade inventada”.

Por gostar de homens que sussurrassem palavras proparoxítonas em seu ouvido, Luana estava sozinha já há algum tempo. Escassez não de pretendentes, uma vez que ela era linda, mas de vocabulário, nos que a queriam levá-la para a cama.
Um dia, numa esquina virtual da vida, conheceu Fernando e ficaram amigos. Ele, nascido e criado em Portugal só conhecia o Brasil através do que tinha lido de Jorge Amado. No seu delírio e desejo, aquela Brasileira que entendia tanto quanto ele de entrelinhas e metáforas, era a Gabriela, cravo e canela que sempre sonhara. Com a vantagem da inteligência e cultura.
Começaram os e-mails diários entre ambos, já que nunca mais conseguiram se encontrar on-line. E neles, as palavras. E a sedução.
Ela, já ligava o computador, antecipando com os seios arrepiados, as frases que a fariam passar o resto do dia em estado de excitação e desejo. Frases que quando respondidas com dedos úmidos, voltavam na forma de uma educação e cortesia polidas por parte de Fernando. Verdadeiras duchas frias em seu corpo, que passara a ansiar tanto por aquele homem.
Então ela aceitava o recuo dele e era também polida e educada, para ao abrir o e-mail seguinte sua calcinha ensopar e ela quase gritar de tesão. E de raiva.
Isso durou alguns meses. Até que soube. Precisava de uma estratégia, afinal aquela briga de cachorro grande já estava indo longe demais. E ela sentia-se perdida e perdendo.
Inventou Carlos, negão carioca, de pica enorme, traficante no morro, que a comia de todas as formas possíveis e sempre que queria. Contou-o a Fernando, com detalhes. Mas jurou sua amizade eterna apesar de. E afirmou que como seu amante não podia vê-la sempre, aquela relação não iria de forma alguma atrapalhar na comunicação de ambos. As minhas noites continuam suas, afirmou.
Ele aceitou, humildemente, e quanto mais tinha a coragem de com fineza européia, parabenizá-la por tanto desejo compartilhado com seu amante imaginário, mas ela se esmerava em descrever, quase sadicamente, suas trepadas, punindo-o e excitando-o.
A cada homem que passava na rua, Luana passou a exercer um fascínio de mulher bem-fudida e neles sua imaginação buscava material para o e-mail seguinte.
Contou de quando transara em todas as posições que sabia e imaginara num dia de sol, numa praia deserta, com a areia arranhando o bico do seu peito e machucando-a. Também dos três companheiros de tráfico de Carlos que revezaram-se em seu corpo, dentro de um barracão abandonado. Descreveu com esmero, os urros que deu, quando seu macho inventado comera sua bunda pela primeira vez. E todas as outras.
Sabia Fernando desesperado, quando seus e-mails rareavam. Mas ele sempre queria saber. Mais. Não, não me conte. Mais.
E ela contava.
Até que Fernando comunica num texto ausente de sua usual maestria com as palavras, que marcara a passagem para o Brasil. Tinha que vê-la. Não conseguia mais dormir, pensando nela, suada e exausta. Amolecida de tanto sexo. E não com ele. Mas exigia, não quero mais sabê-la nessa relação.
Ela gargalha, quando concorda também por escrito, e muito poeticamente, com a condição imposta por ele.
Chega o dia. Ela está dirigindo até o aeroporto para buscar Fernando, quando dois homens armados invadem seu carro. Uma máscara é arrancada e olhos negros que se destacam numa pele também negra a fitam. Ela escuta a voz de um alguém no banco de trás gritando:
- Porra, Carlos, vai deixar a puta ver teu rosto?

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Chuva

Querido M.
Espero que esteja tudo bem com sua terceira esposa (ou é a quarta?). Como é mesmo o nome dela? E os filhos todos, como vão?
Resolvi te escrever, porque ainda nos lembro. Muito. Deve ser por causa do excesso de vinho e uísque barato dos últimos longos anos e a proximidade dos quarenta. Ou porque tenho trepado muito pouco ultimamente. Este seria, entre risos, seu veredito final, tenho certeza.
Enfim, essas lembranças são principalmente sobre sua delicadeza e insistência em certos carinhos tão seus. Daqueles do tipo que depois de algum tempo sendo feitos, me deixavam pronta para enfrentar banheiros em bares cheios ou ruas escuras em locais ermos . Carinhos que até hoje se por acaso repetidos em meu corpo por outro alguém, me levam de volta ao tempo de nós dois.
Por exemplo, quando mesmo entre amigos e cervejas, pegavas minha mão, e exploravas em círculos minha palma, com um língua lenta e morna e molhada e tesa. Eu gostava de ver seus olhos abertos, divididos entre me fitar de soslaio e prestar atenção à conversa das pessoas na mesa que estivéssemos.
A resposta da minha mão, quando me era devolvida, longos minutos depois, era pegar no teu pau por cima do jeans sujo que estivesses usando. E ele sempre estava duro, como se com tua língua tivesses lido que meu futuro próximo era foder contigo noite adentro.
Gostava também quando com tua unha comprida de violonista coçavas engraçado por trás do meu joelho, um sinal de que logo depois, irias com uma leve pressão de dedos apertando minha coxa até enfiar teu dedo na minha boceta molhada. As calcinhas foram abolidas, os vestidos se tornaram meu uniforme na nossa batalha diária. Alguém chegou a vencê-la, querido?
Encontrei a Ana dia desses num boteco aqui na cidade louca, e ela me lembrou que foi você que me fez beijá-la a primeira vez. Disso eu não lembrava, mas ainda sinto o gosto do riso que te acompanhava quando eu acordava em nossa cama e puta da vida, expulsava a mulher que por acaso estivesse conosco. E então, quando eu voltava para o quarto e começava a quebrar coisas, você me derrubava no chão e prendia minhas mãos e sufocava meus gritos com um beijo agressivo e antes de se meter entre minhas pernas com brutalidade, comentava que eu havia adorado cada momento com a tal desconhecida. Eu sempre acreditava em você. E gozava. E gozava. E gozava.
Enfim, lembro principalmente quando você correu atrás de mim numa rua alagada, no meio de uma chuva infernal, quando decidi que aquele estado de eterna ânsia e desejo só poderia acabar nos matando. Lembro quando eu finalmente cansei e sentei naquele banco de praça e você estava lá logo depois, e me obrigou a sentar no seu colo e me comeu agarrando meus seios com força e puxando meus cabelos com raiva. E quando me sabias preste a gozar, me empurrou para longe de ti e de volta à minha decisão. E me deixaste sozinha.
Desde então, nunca mais parou de chover, querido.
Daqui a três dias estarei de volta à nossa cidade, e marquei com alguns de nossos velhos amigos no mesmo velho local. Se puderes aparecer, te prometo minha mão em cima da mesa, novamente à espera de tua língua. Irás?
P.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Desafio da semana


O desafio da semana para os colaboradores deste blog é o desenho de Gustav Klimt acima.
Fiquem á vontade, textos, desenhos, fotos, vale tudo, afinal de contas, ninguém vai ficar sabendo...